ALEKHINE – UMA
INTERESSANTE ABORDAGEM DA RUY LOPEZ,
DEFESA STEINITZ
Celebrado, entre outros motivos, por sua incrível visão
combinatória, Alekhine nos brinda nessa partida com uma combinação belíssima, com
o tema central de duas torres dobradas na coluna h.
É importante perceber como ele, jogando de modo empreendedor
e sempre colocando obstáculos no caminho do adversário na escolha das melhores
respostas, vai construindo em etapas a posição que, coroada pelo brilhante
sacrifício final, coloca as pretas em uma
inescapável rede de mate. (Ernesto)
Alekhine,Alexander -
Mindeno,A [C62]
Simultanea - Holanda,
01.10.1933
[Comentários de
Alekhine]
1.e4 e5 2.Cf3 Cc6
3.Bb5 d6
A Defesa Steinitz, que
estava em moda na época do match Lasker-Capablanca (1921), desapareceu
definitivamente da prática magistral.
Na realidade, o
procedimento moderno, com o lance intermediário 3...a6 (Steinitz Diferida),
oferece as pretas, depois de 4.Ba4 d6, uma gama mais ampla de planos de
desenvolvimento que o autorrestritivo lance do texto.
4.d4 exd4
Depois de 4...Bd7, a linha mais promissora para as brancas
Depois de 4...Bd7, a linha mais promissora para as brancas
seria 5.Cc3 Cf6 6.Bxc6
Bxc6 7.Dd3!
5.Dxd4
5.Cxd4 Também é bom.
Com o lance do texto, as brancas planejam o
roque grande.
5...Bd7 6.Bxc6 Bxc6 7.Cc3 Cf6 8.Bg5 Be7 9.0–0–0
0–0 10.h4
Essa posição já havia
ocorrido a longo tempo em uma partida de torneio de Anderssen, em Baden-Baden,
1870. O campeão alemão jogou aqui 10.The1, e a partida terminou em empate. Com
a finalidade de verificar uma vez mais o valor do lance, eu a repeti em Folkestone,
1933, contra um homônimo de Anderssen, o mestre dinamarquês
E. Anderssen, porém,
em que pese tenha ganho a partida, sua primeira etapa não foi desfavorável para
as pretas: 10...Cd7 11.Bxe7 Dxe7 12.Td3 Df6 13 Cd5 Bxd5 14.exd5 Dxd4, etc. A
jogada do texto encerra algumas sutilezas, porque as pretas não devem cometer
excessos no esforço para desalojar o bispo de g5.
10...h6
Esse lance, em si, não
é ruim, porque as pretas não estão obrigadas a capturar o bispo com o peão,
podendo deixar essa opção em aberto para quando a posição não ofereça perigo
para o Rei.
11.Cd5
Sacrifício correto e
exatamente calculado, que as pretas não deveriam aceitar. Entretanto, 11.Rb1
seria ainda mais apropriado para manter a tensão.
11...hxg5?
Ainda que o desfecho
final do sacrifício era muito difícil de prever, não resta dúvida que seu
aceite merece censura. Era óbvio que a abertura da coluna h implicava um perigo
mortal, ainda mais considerando que as pretas tinham uma defesa perfeitamente
segura (ao menos nesse momento) continuando com 11...Cxd5 12.exd5 Bd7, etc.
12.Cxe7+!
É evidente que 12.hxg5
Cxd5 13.exd5 Bxg5+ não era bom porque as pretas teriam boa defesa.
12...Dxe7 13.hxg5
Cxe4
Contra qualquer outro
lance de cavalo, a duplicação das torres na coluna h seria decisiva. E se
13...Dxe4 14.gxf6 Dxd4 15.Txd4 Bxf3 16.gxf3 Tfe8 17.Tg4! g6 18.Tgh4, o mate é
inevitável.
14.Th5 De6
Se 14... f5, as
brancas forçariam o ganho de uma forma semelhante a do texto: 15.g6 De6 16.Ce5!
Cf6 (caso contrário segue 17.Tdh1) 17.Th8+! Rxh8 Dh4+ Rg8 Th1 com mate inevitável.
15.Tdh1 f5
Depois desse lance
parece que as pretas se salvam, porque se 16.g6 Dxg6 17.Ce5, obteriam uma torre
e duas peças menores pela Dama mediante 17...Dxh5 18.Txh5 dxe5.
Porém, uma inversão
espetacular de lances termina com suas esperanças.
16.Ce5!!
Jogada surpreendente,
cuja finalidade consiste em debilitar a defesa da casa d5.
16...dxe5 17.g6!
O arremate final. Se
agora 17...Dxg6 segue Dc4+ com mate em três.
1–0
Partida originalmente postada no site do CXC: www.cxc.org.br