quarta-feira, 29 de junho de 2011

Novidades nos Regulamentos FIDE - IA A. Bento


Há novidades direcionadas para o jogador UR (sem rating FIDE) que entram em vigor a partir de 1º de julho de 2011:

1) Em seu torneio válido para rating FIDE se o jogador 'unrated'  não pontuar contra jogador com rating FIDE, seu escore será desconsiderado para efeito de cálculo do rating inicial.

2) Se no primeiro torneio também não tiver enfrentado pelo menos 3 jogadores com rating FIDE, seu escore será desconsiderado para efeito de cálculo do rating inicial

3) Nos eventos subseqüentes seus escores - inclusive zero ponto - passam a ser acumulados para formação do seu rating inicial.

4) Nos eventos subseqüentes seus escores mesmo partidas com menos de 3 jogadores também passam a ser acumulados para formação do seu rating inicial.

Novidade no cálculo do rating inicial
Se o jogador 'unrated' fizer mais de 50% dos pontos possíveis em 9 ou mais partidas, o seu rating inicial será igual ao rating médio dos adversários acrescido de 15 pontos, a cada meio ponto que fizer mais de 50% dos pontos.

Então: R(u)=R(a) + 15 (para cada meio ponto acima dos 50%
Exemplo: Se o jogador fizer 5,5  pontos em 9 partidas contra adversários com rating médio igual a 2200, o rating inicial do UR = 2200 +15 (2x0,5).

Outra novidade é a relativa ao coeficiente k para efeito de cálculo de rating de novos jogadores.
Enquanto não tenham completado 30 partidas ... o coeficiente será igual a 30 (ao invés de 25), o que implica em maior alavancagem.

O Regulamento de Torneios FIDE (C06)  também sofreu várias alterações que impactarão competições iniciadas a partir de 1º de julho de 2011.

1) Para torneios oficiais FIDE a hora de chegada deverá ser a do início da rodada. Portanto não serão tolerados atrasos. Perderá a partida quem não chegar na hora programada.
Para outros torneios aplica-se o disposto nos artigos 6.6 a e 6.6 b da Lei do Xadrez. Significa que fica a critério do organizador aplicar tolerância zero ou admitir atrasos desde que fique especificado no regulamento técnico da competição o período de ausência.
Exemplo: Perderá a partida o jogador que não chegar no prazo de 30 minutos a contar do início da rodada. 
 
2) Propostas de empate podem ser aceitas a qualquer tempo se não houver disposição contrária estabelecida no regulamento técnico. Fica a critério do organizador inibir empates.
 
3) O jogador que receber carta convite para participar de eventos válidos para rating FIDE, pode se quiser, mencionar doenças pré-existentes e dieta especial e/ou exigências religiosas.
 
4) O árbitro chefe de competições mundiais e continentais deve ter o título de Árbitro Internacional Categorias "A" ou "B" e na conclusão do evento deve enviar para a FIDE o relatório final.
 
5) O árbitro, ao efetuar emparceiramento de Torneio Suíço FIDE,  deverá usar o programa previsto no regulamento técnico ou aquele anunciado durante o respectivo Congresso Técnico.
 
6) É recomendável que o Comitê de Apelação (AC) consista de presidente, pelo menos dois membros titulares e dois suplentes. Se possível, o Presidente, os dois efetivos e dois suplentes membros do Comitê devem pertencer a diferentes federações.
Os membros do Comitê de Apelação não podem ter menos de 21 anos.
 
7) O jogador não deve comentar sobre sua partida enquanto ela estiver em andamento. (Cabe ao árbitro verificar observância).

Eis os detalhes que deverão ser observados por organizadores e árbitros nos preparativos dos salões de jogos de IRT e ITT iniciados a partir de 1º de julho de 2011. 

O salão de jogos deve ter iluminação de padrão similar àquele que é usado para aplicação de provas escritas.
 

Deverão ser tomados cuidados para que a luz solar não incida no salão durante o andamento de toda a partida.
 

O salão de jogos deve ser carpetado, se possível. Caso contrário pode ser necessário solicitar aos jogadores que não usem calçado de solado duro, para evitar ruído que atrapalhe a concentração.
As instalações de toaletes devem ser cuidadosamente inspecionadas.
 

Num torneio de alto nível deve haver para cada jogador disponibilidade de espaço de pelo menos 4,5 m2.
 

Para evento de menor nível são suficientes por jogador apenas 2 m2.
 

As mesas de jogo devem ser colocadas bem distanciadas das portas.
 

Deve haver uma distância mínima de 2,5 metros entre as fileiras de jogadores. 

Deve ser evitada longa fileira continua de mesas.
 

Os jogadores devem jogar em mesas individuais, se possível.
 

A mesa ideal para uma competição deve ter de comprimento o dobro da dimensão do tabuleiro e de largura de 15 a 20 cm a mais que o tabuleiro.
 

As dimensões recomendadas de mesas são 120 x 80 100/120 x 80/83 cm.
 
A altura da mesa deve ser de 74 cm e as cadeiras devem ser confortáveis para os jogadores.
 

Especial atenção deve ser dada para os eventos de crianças.
 

Deve ser evitado qualquer barulho na movimentação das cadeiras.
 

As condições para ambos jogadores numa partida tem  de ser idênticas. Mas, as condições para todos os jogadores, se possível, devem ser idênticas. 

Tabuleiros em torneios IRT e ITT iniciados a partir de 1º de julho de 2011.

Para Campeonatos Mundiais ou Continentais devem ser usados, se possível, tabuleiros de madeira.

Para demais torneios registrados na FIDE recomendam-se tabuleiros feitos de madeira, plástico ou cartolina.
Em todos os casos os tabuleiros devem ser rígidos.
O tabuleiro também pode ser de pedra ou mármore com casas claras e escuras apropriadas, desde que o árbitro chefe julgue aceitável.

Madeiras naturais com suficiente contraste, tais como bétula, bordo ou cinza europeu em contraste com cor de nogueira, teca, faia, etc., também podem ser usadas para tabuleiros, o qual deverá ter um acabamento neutro, esmaecido, nunca brilhante.

Combinações de cores tais como marron, verde, ou bronze claro e branco, creme, marfim claro, cor de couro, etc., podem ser usadas para as casas adicionalmente às cores naturais.

A dimensão de uma casa do tabuleiro pode ser o dobro do diâmetro da base de peão. É recomendável tabuleiro com casas de 5,5 cm.

Após o término da partida, o árbitro ou os jogadores devem colocar o(s) rei (s) no meio do tabuleiro para indicar o resultado da partida arrumando, em seguida, as peças.

Na próxima coluna, veremos os detalhes que deverão ser observados por organizadores e árbitros no que diz respeito a relógios de xadrez em competições de alto nível.
 

Relógios de xadrez em torneios IRT e ITT iniciados a partir de 1º de julho de 2011.

Se forem usados relógios mecânicos de xadrez deverão ter um dispositivo sinalizando precisamente quando o ponteiro indicar o término do tempo.

Devem ter uma seta cuja queda possa ser claramente observada, de modo a ajudar árbitros e jogadores na checagem do tempo.

O relógio não deve ter brilho que prejudique a visão.

O ponteiro deverá correr tão silenciosamente quanto possível de modo a não perturbar os jogadores durante o andamento da partida.

Se forem usados relógios eletrônicos de xadrez, devem funcionar de acordo com as Leis da FIDE.

O mostrador deve exibir o tempo disponível para o jogador completar seu próximo lance.

Os mostradores devem ser legíveis de uma distância de pelo menos 3 metros.

O jogador deve ter a clara visão de que o relógio está em funcionamento pelo menos de uma distância de 10 metros.

No caso de término do controle de tempo, um sinal no mostrador deve dar a clara idéia de qual jogador ultrapassou primeiramente o limite de tempo.

É exigida uma indicação de 'low-battery' para relógios equipados com bateria ou pilha.
No caso de indicação de bateria/pilha fraca o relógio deve continuar a funcionar sem falhas pelo menos por 10 horas.

Atenção especial deve ser dada ao correto anúncio de término dos controles de tempo.
No caso do sistema de regulagem conhecido como 'delay', o relógio não deve agregar nenhum tempo adicional se o jogador ultrapassar o último controle de tempo.

Em casos de penalidade de tempo, as correções de tempo e do número de lances devem ser executadas por um árbitro dentro do prazo de 60 segundos.

Deve ser impossível apagar ou mudar os dados no mostrador com o simples manuseio.
Os relógios devem conter um breve manual de usuário.

Os relógios eletrônicos de xadrez usados em eventos FIDE devem ter o endosso da Comissão Técnica da FIDE.
O mesmo tipo de relógios deve usado durante todo o período do torneio.
 
AI Antonio Bento é Vice Presidente Técnico da CBX, Árbitro Categoria A, representante da FIDE América nas Comissões FIDE (QC e SPP). Primeiro “Lecturer” FIDE a ministrar seminários em língua portuguesa.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Curso Presencial de Arbitragem/São Bento do Sul - SC

V CURSO DE ORGANIZAÇÃO E

ARBITRAGEM EM XADREZ


ID CBX 1272/11


 
CERTIFICADO: certificado através da Associação de Xadrez de São Bento do Sul e GEREI (á confirmar), ministrado pelo Árbitro Internacional de Xadrez (FIDE) e Profissional de Educação Física (CREF). Aqueles que atingirem nota sete na avaliação poderão cadastrar-se como Árbitros Auxiliares do quadro da CBX.

Á SABER: este é o quinto curso de xadrez promovido pela Associação de Xadrez de São Bento do Sul, Coordenado pelo Profissional de Educação Física Eduardo Quintana Sperb e ministrado pelo Árbitro Internacional Carlos Calleros, com o apoio da Federação Catarinense de Xadrez.

O objetivo é promover a qualidade nos eventos escolares e oficiais realizados em todos seus segmentos. O curso tem por objetivo suprir a grande demanda gerada com o crescimento do xadrez e destinasse a: acadêmicos, professores, técnicos, jogadores, e todos aqueles envolvidos com a modalidade que querem capacitar-se e/ou aprofundarem-se mais no conhecimento desta modalidade.

MINISTRANTES:

Carlos Alberto Barriquello Calleros 
Árbitro de Xadrez desde 1984
Federatione Internationale des Echecs – FIDE – ID 2111942
International Blind Chess Asociation
Campeonatos Brasileiros, Panamericanos e Mundiais.
Eduardo Quintana Sperb – CREF – 000581-G/SC
Licenciatura Plena em Educação Física -1997-UFSM
Trabalha com Xadrez de Rendimento e Pedagógico desde 1996.
PÚBLICO ALVO: Fundações, Clubes, Técnicos, Professores de Educação Física e/ou demais interessados em capacitar-se na modalidade.
CARGA HORÁRIA: certificado de 24 e 31 h/a. 

CONTEÚDO:           
I Parte: Preparação, Organização e Arbitragem de Xadrez
II Parte: Regras de Xadrez e Torneio - Atualizações
III Parte: Sistemas de Competição e Critérios de Desempate
IV Parte: Sistema Suíço de Competição “manual” e com Softer

APOIO: FCX, Xadrez Educa, Colégio Froebel e Foto Daiana.
LOCAL: Colégio Froebel.

DATA: 01, 02 e 03 de julho.

PROGRAMAÇÃO: 
- 01/07 – sexta-feira – 13:10 ás 19:00 – Colégio Froebel
- 02/07 – sábado – 08:00 ás 12:10 – Colégio Froebel
- 02/07 – sábado – 13:10 ás 19:00  – Colégio Froebel
- 03/07 – domingo – 08:00 ás 18:00  – Colégio Froebel
- 03/07 – domingo – 13:10 ás 19:00  – Colégio Froebel

VALOR: R$ 150,00 (cento e cinqüenta reais).

VAGAS: limitadas.

Opções de Alojamento/Hotéis/Pousadas:
Alojamento: somente disponível de sexta-feira em diante após 18:30 (trazer roupa de cama e colchão).
*Pousada São Bento: 3633-23-21 / Garagem/Café – 200 metros do local – R$ 25,00 (em 23/maio).
**Hotel Tank: 3633-4171 / Garagem/Café – 50 metros do local – R$ 40,00 (em 23/maio)
Hotel Eliana: 3635-12-43 / Garagem/Café – Bairro Colonial.
Hotel: 3626-2673 / Rua Karl W. Berdliau n. 82 – Bairro.
Pousada Oxford: 3635-1516 / Br 280 n. 748
Pousada São Cristovão: 3633-4758 / Rua Amborosius Pfeiffer n. 45 – Bairro.
Pousada Auguri: 3635-2606 / Br. 280 n. 1400
Pousada Ávila: 3634-0804 / Rua 19 de Novembro n. 86 – Bairro.

Informações e inscrições: Eduardo Quintana Sperb –– (47) – 8407-8989 (Oi) ou 9605-6121 (TIM)

terça-feira, 7 de junho de 2011

GAMBITO NA FRANCESA – PARTE I - Ernesto Pereira

I - INTRODUÇÃO

Uma das características marcantes da Defesa Francesa consiste em que, nas suas numerosas variantes, são poucas as ocasiões em que as brancas realizam lances de gambito na abertura, para obter compensação em termos de vantagem posicional, de espaço, ou de dianteira no desenvolvimento. A tentativa mais conhecida é o célebre Ataque Alekhine-Chatard (1.e4 e6 2.d4 d5 3.Cc3 Cf6 4.Bg5 Be7 5.e5 Cfd7 h4).

Nesse trabalho será apresentada outra tentativa, ocorrendo desta vez em uma linha considerada por muitos como das mais sólidas para se jogar de brancas: a Variante Cerrada do Sistema Tarrasch (1.e4 e5 2.d4 d5 3.Cd2 Cf6 4.e5 Cfd7).

Em outubro de 1967, a URSS comemorou os 50 anos da Revolução Vermelha de Outubro de 1917, quando Lênin e seus seguidores colocaram o partido bolchevique no poder, instituindo a Ditadura do Proletariado na antiga Rússia dos Czares, evoluindo mais tarde para a aglutinação de um conjunto de nações do Leste Europeu e formando assim a União Soviética.

Entre os eventos que marcaram as comemorações dessa efeméride, consta a realização de dois grandes Torneios Internacionais, o primeiro em Moscou, com Leonid Stein como campeão, e o segundo em Leningrado, vencido por Viktor Kortchnoi. Ambos os GMs estavam então em movimento ascendente em suas carreiras, constituindo-se em autênticas promessas para a conquista do cobiçado título de Campeão Mundial, então nas mãos competentes e profiláticas do genial Tigran Petrossian. Com Botvinnik tendo decidido retirar-se da luta pelo Campeonato mundial, ao lado de GMs como Fischer, Tal, Spassky, Larsen e outros, Stein e Kortchnoi constituíam a elite do Xadrez Magistral daqueles tempos.

Stein, vencedor do Campeonato Soviético nos anos de 1963, 1965 e 1966, faleceu prematuramente em 1973, aos 39 anos.

Kortchnoi brilha até hoje como um dos mais laureados GMs, e por duas vezes, em 1978 e 1981, foi o desafiante ao título de Campeão Mundial frente a Anatoly Karpov, não tendo sucesso, segundo dizem alguns, por fatores extra-tabuleiro, ao tornar-se um dissidente do regime soviético.

Existe até um filme premiado com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 1985 (“A Diagonal do Bispo”) cujo roteiro foi inspirado nesses dramáticos e tensos enfrentamentos, com clara carga política. Estrelado por talentos como Michel Piccoli, Leslie Caron, Liv Ullman e Alexandre Arbatt, a consultoria sobre Xadrez ficou a cargo do GM Joel Lautier.

No desenrolar do Torneio de Leningrado, em sua trajetória rumo ao título de Campeão, ao chegar à rodada em que iria enfrentar o GM iugoslavo Mijo Udovcic, GM Kortchnoi decide jogar contra uma Defesa Francesa, justamente a que se constitui em uma de suas Defesas eleitas quando joga de pretas contra abertura de peão de Rei. Mas, quando GM Udovcic decidiu jogar a Variante Cerrada contra o Sistema Tarrash, de súbito Kortchnoi adota uma inédita linha envolvendo a entrega deliberada de um peão, ou seja, um autêntico Gambito na Defesa Francesa.

Justificando sua decisão, menciona o ensinamento de GM Botvinnik (“Nunca jogue contra Você mesmo”). Mas, disse também que naquele momento estava algo cansado de jogar aberturas cerradas e que, ao escolher jogar contra uma de suas defesas favoritas, resolveu não entrar nas linhas usuais, consideradas as mais adequadas, porque isso poderia dificultar seu desempenho na partida, em termos de psicologia enxadrística.

Informou ainda o GM campeão de Leningrado que a decisão de escolha da variante de gambito baseou-se em uma série de partidas blitz que havia jogado anteriormente com o GM Efim Geller, onde este havia encontrado uma interessante passagem da Dama branca para a ala do Rei, mediante a manobra Dd1-a4-c2-a4-g4. Nessa ala, em face do posicionamento restringido e deslocado das peças negras, o ataque contra o monarca preto pressupunha razoáveis chances de êxito.

Desse modo, pode-se concluir que a decisão de Kortchnoi não foi devida a fato fortuito, e sim dentro de um contexto de Administração do Risco (ver Palestras no site do CXC sobre esse tema) envolvendo experiência prévia com as posições prováveis a serem alcançadas durante a partida.


II – A PARTIDA

Kortchnoi,Viktor - Udovcic,Mijo [C05]
October Revolution 50 Leningrad, 1967

1.d4 e6 2.e4 d5 3.Cd2 Cf6 4.e5 Cfd7 5.c3 c5

Nesse momento, a linha 6.Bd3 Cc6 7.Ce2 Db6 8.Cf3 constitui a sólida e usual continuação da variante, com posição-tipo retratada no seguinte diagrama:



Brancas intentam neutralizar o ataque à estrutura central de  seus peões, ao mesmo tempo em que planejam o deslocamento de suas peças para a ala do rei, onde entendem que será o palco das futuras escaramuças contra o monarca negro.

Por seu turno, pretas já conseguiram o contato de seu ataque de maioria qualitativa (ver Palestras de Henrique Marinho sobre esse tema, no site do CXC), e mediante ações pela ala da Dama, conjugado em alguns casos com a ruptura temática em f6, planejam a demolição total da cadeia central de peões brancos, para que suas peças restringidas possam então desenvolver o máximo de suas potencialidades.

Isso tudo era de sobejo conhecimento de GM Kortchnoi, que ao conduzir as peças negras nessa classe de posição, sentia-se à vontade para exercitar ações de defesa ativa que caracteriza seu estilo brilhante.

E, por esses mesmos motivos, conforme dito por ele próprio, resolveu por em prática a experiência trazida de suas partidas blitz com GM Geller, enveredando por uma linha mais agressiva para as brancas.

 6.Cgf3!?

Após esse lance, brancas desistem de seguir na defesa do peão de d4, optando pela entrega do mesmo, e em compensação adiantar o desenvolvimento e ação de suas peças, com razoáveis chances de longo prazo.

Por sua vez, pretas não precisam necessariamente aceitar a oferta de material. Após 6...Cc6 7.Bd3, entre outras alternativas podem iniciar a pressão sobre a cadeia central branca, mediante a troca c5xd4 seguida de f7-f6, ou f7-f6 diretamente. Podem ainda seguir desenvolvendo suas peças, mediante Cd7-b6 ou Bf8-e7. Por fim, existem variantes modernas em que, após Bf8-e7,  o lance g7-g5!? tem papel preponderante, levando a linhas mais agudas.

A primeira parte apresentada nesse momento trata apenas da idéia original de Kortchnoi, após o aceite da oferta de peão. Outras continuações, não menos interessantes para os dois lados, serão tratadas nas partes II e III, a serem apresentadas futuramente.

6...Cc6 7.Bd3 Db6 8.0–0!?
  
 Comparando-se esse diagrama com o primeiro, pode-se perceber uma sutil diferença: no primeiro diagrama, brancas posicionaram um cavalo em f3 em dois tempos (Cb1-d2-f3), enquanto que no segundo diagrama o cavalo de f3 foi desenvolvido em um só tempo. Isso viabilizou, com o tempo restante, a realização do roque branco. Por seu turno, a posição das peças pretas é a mesma nos dois diagramas.

Nesse momento, é possível seguir defendendo o peão em d4 mediante 8.Da4. Todavia, seguindo com  8...Be7 e rocando em seguida, pretas demonstram que a Dama em a4 desempenha função imprópria de seu status, com brancas evoluindo rapidamente para uma posição inferior. O plano de contrajogo das pretas permanece em vigor, enquanto que a iniciativa branca na ala do Rei não prospera.

8... cxd4 9.cxd4 Cxd4 10.Cxd4 Dxd4 11.Cf3


Essa é a posição critica da variante de gambito adotada por GM Kortchnoi. O roque e as trocas ocorridas em d4 conferem às brancas aceleração no desenvolvimento e ação de suas peças, com manutenção do peão avançado em e5 para continuidade do caráter restringido das peças contrárias. Por sua vez, pretas estão em vantagem material, consistindo de um peão central passado e solidamente protegido pelo seu colega de e6. Suas alternativas de jogo consistem em alcançar um final onde prevalecerá sua vantagem material, ou devolver essa vantagem em ocasião propícia para obter outro tipo de benefício em troca.

11...Db6

Não é melhor para as pretas a migração da Dama para a ala oposta: 11...Dg4?! 12.h3 Dh5 14.Te1 (é viável também 14.Da4.Be7 15.Bb5!?), com idéia de Rh2 e g5. 

12.Da4

Agora a Dama branca não está mal posicionada em a4, como ocorre com o lance 8.Da4 como alternativa ao lance 8.0-0!?. É que, desaparecido o peão de d4, existe uma linha de comunicação direta, via a4-h4, para migração imediata à ala do Rei, dando causa a ações de ataque nesse setor.

12...Db4

Configura uma ação inócua e comprometedora da situação das pretas. Encontrando-se retrasadas no desenvolvimento, esse lance contribui para o desenvolvimento rápido do bispo branco de c1 via Bc1-d2 com ganho de mais um tempo precioso.

13.Dc2

Atacando o peão de h7. Existem variantes em esse peão é oferecido para a obtenção de um equilíbrio dinâmico da posição: 13...Dc5 14.Bxh7 b6 (14...Dxc2=) 15.Bf4 Ba6 16.Tfc1 Dxc2 17.Bxc2 Cc5 18.Cd4 Be7= Furman-Ulhmann, Polanica Zdroj 1967.

Para evitar essa variante, brancas não tomam o peão de h7, preferindo posições que serão derivadas da alternativa 13...Dc5 14.De2, que serão apresentadas na parte II desse trabalho. Em suas partidas de blitz, essa foi a alternativa escolhida por GM Geller, obtendo posições com forte iniciativa, em face do domínio da coluna c pelas torres brancas, mais uma vez com ganho de tempo.

Aqui, GM Udovcic, mediante 13...h6, prefere manter o peão da coluna h, ao mesmo tempo em que controla a casa g5, que no mais das vezes se constitui em excelente ponto de passagem para cavalo e bispo brancos pressionarem a ala do Rei. GM Kortchnoi entende que 13...g6 seria mais adequado ao tipo de posição.

13...h6 14.Bd2 Db6 15.Tac1 Be7 16.Da4

Fiel ao seu propósito de ataque, GM Kortchnoi volta a posicionar sua Dama em a4, para daí promover seu traslado à ala do rei. Ao mesmo tempo, dá início a uma série de cravaturas das peças pretas, com o objetivo de comprometer o desenvolvimento da posição contrária. Além disso, coloca como ameaça imediata o lance Bd2-a5. Lances assim, com múltiplos propósitos, sempre se constituem em fator de desequilíbrio, desfavorável ao adversário.


16...Dd8 17.Tc2 Rf8

Para livrar-se da incômoda cravada do cavalo, e com o intuito de desenvolver suas peças via Cd7-b6, Bc8-d7 e Ta8-c8, pretas retiram seu Rei para a casa f8, que julgam mais segura que em e8. Aqui, o roque não seria melhor, em face da continuação apontada por GM Kortchnoi: 17...0-0 18.Dg4 f5 17.Dg6.

18.Tfc1

 Completando o desenvolvimento de todas as suas peças, GM Kortchnoi permite o desembaraço momentâneo das peças pretas da ala da Dama, inclusive a troca de um par de torres. Contudo, mesmo ante esse alivio temporário, as pretas seguirão sendo pressionadas pela sucessão de cravadas antes mencionada.

18...Cb6 19.Dg4 Bd7

Não é possível o intento de comunicação das peças pesadas pretas via 19...g6 20.Nd4 Kg7? 21.Bxg6 fxg6 22.Rxc8 Rxc8 23.Nxe6+

20.Ba5

A segunda cravatura. Tem o objetivo imediato de impedir a retomada em c8 com o cavalo. Conforme será visto à frente, isso fará muita diferença.

20...Tc8 21.Txc8 Bxc8 22.Bb4!

A terceira cravatura. Aqui não é possível o câmbio 22...Bxb4 23.Dxb4+ De7 24.Dxb6 +- justificando assim por inteiro a segunda cravatura (20.Ba5).

 22...g6

Com o intuito de liberar o jogo mediante Rg7. Entretanto...

23.Dh4!

A quarta e quinta cravaturas simultâneas (bispo de e7 e o peão de h6)! Detalhe: o bispo de e7 fica sob cravatura dupla.

23...g5

A pressão branca é enorme. Assim pretas decidem devolver o peão de vantagem, com a esperança de, permanecendo duas peças brancas sob ataque, alcançar melhor desempenho para suas peças comprometidas.

24.Cxg5! Re8

Agora a ameaça das pretas é dupla: o cavalo de g5 está cravado, parecendo ser forçada a continuação 25.Bxe7 Dxe7 28.Cf3 Dxh4 29.Cxh4, com desaparecimento total da pressão branca. Porém as coisas não são bem assim...

25.Bb5+!

Forçando pretas a se subterem à sexta cravatura, ao mesmo tempo em que impede o acesso do monarca preto à casa d7.

O retorno do Rei a f8 apenas recoloca a posição sob o status de múltipla cravatura existente no lance 24, viabilizando a enérgica continuação 26.Cxf7! Rxf7 27.Dh5+ Rg7 28.Tc3.

25...Bd7 26.Cxe6!!

Esse lance coloca a posição sob uma condição de grande complexidade, ante o grande número de variantes que agora emergem como continuações prováveis. E mais, pode-se dizer que, para aquelas variantes consideradas as mais viáveis, a árvore de análise continua se desdobrando em outras continuações mais e mais intrincadas. GM Kortchnoi havia previsto todas essas alternativas? Provavelmente não. Mas seu grande talento, criatividade e senso de oportunidade, por certo, foram os fatores determinantes pelos quais enveredou por caminhos tão complicados.

 
Com o bispo de d7 impedido de tomar em e6 e o Rei impossibilitado de escapar por d7, as alternativas que restam às pretas são:
a)- 26...Bxh4 27.Cg7++
b)- 26...Bxb4 27.Dxd8++
c)- 26...Bxb5 27.Cg7+ Rd7 28.Dg4+f5 29.Dxf5++ ou 29.e6++ ou 29.exf6 en passant ++.
d)-26...Bxb5 27.Cg7+ Rf8 28.Cf5! recolocando o bispo de e7 sob dupla cravatura, agora com a fatal ameaça 27...Cc8 29.Txc8 Dxc8 30.Bxe7+ Re8 31.Cd6+ +-

Em presença dos resultados adversos para cada uma dessas variantes e sub-variantes, pretas decidem pela ultima alternativa, qual seja a captura do cavalo com o peão de f7.


 26...fxe6 27.Dh5+ Rf8 28.Tc3


Brancas conseguem seu objetivo imediato principal, qual seja o isolamento do monarca preto na ala do rei, sujeito ao assédio das peças brancas, sem a participação efetiva das forças pretas na defesa.

Entretanto, novamente as variantes possíveis nessa posição tornam as tarefas de ataque e defesa muito difíceis de resolver. Basicamente, constituem-se em três linhas principais:

a)-28...De8 29.Bxe7+ Dxe7 30.Tf3+ Rg7 (se 30...Rg8 31.Bxd7 Cxd7 32.Dg6+ Dg7 33.Dxe6+ Rh7 34.Tf7+-) 31.Tf6 Th7 32.Bd3 Be8 33.Dg4+ Rh8 34.Txe6+-;

b)-28...Be8 e agora são possíveis duas variantes de ganho:

b.1- 29.Tf3+ Rg7 30.Dg4+ Bg5 31.h4.
b.2- 29.Bxe8! Dxe8 30.Dh4! Df7 (se 30...Bxb4 31.Df6+ Df7 32.Dxh8+ Re7 33.Tg3!+-) 31.Rc7.

GM Udovcic preferiu a terceira continuação, colocando a torre preta na defesa da sétima fila:

28...Th7 29.Dg6! Tg7 30.Dxh6!

A sétima e derradeira cravatura, que sela o destino das pretas.

 Bxb4 31.Tg3!

Agora, não resolve 31...De7 32.Dh8++-

1–0

III- CONCLUSÃO

A partida aqui apresentada constituiu iniciativa pioneira de uma abordagem diferente em relação ao tratamento que até então era dado à Variante Cerrada do Sistema Tarrash na Defesa Francesa.

Em vez de aferrar-se na defesa de seu peão-baluarte de d4, brancas decidem oferta-lo em troca de compensações em termos de espaço e tempo.

Os riscos podem ser medidos de imediato, principalmente em relação ao surgimento de um perigoso peão preto central, passado e protegido, que pode tornar um final de partida muito desfavorável para as brancas. Mas até lá, muitos benefícios podem ser colhidos pelas brancas, o que torna essa linha muito interessante.

Depois dessa, outras partidas com essa variante foram jogadas em Torneios Internacionais de importância, das quais algumas serão apresentadas nas partes II e III desse trabalho.
Curitiba, maio/2011

Por:
Ernesto Luiz de Assis Pereira
CXC www.cxc.org.br

IV – REFERÊNCIAS DE CONSULTA

  1. Artigo “A Pawn Sacrifice in the Tarrash” by John Nunn - Revista “Modern Chess Theory” Vol 1 nr.12 December 1978 – M.C.T. Publishing Ltd. Essex/England.
  1. Arquivo de video “My Life for Chess” – by Victor Kortchnoi – ChessBase 2010.