terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

O Bom, o Mau e o Feio

Um estudo sobre o valor e o potencial do bispo no Xadrez.


Para se escolher uma estratégia adequada a uma determinada posição é fundamental conhecer temas estratégicos, um deles é o valor dinâmico e potencial de cada peça.
Vários autores consideram dentre as peças menores, o bispo e o cavalo como peças de valor equivalente.

Usualmente utiliza-se a seguinte tabela comparativa:
• Peão = 1 ponto
• Cavalo = 3 pontos
• Bispo = 3 pontos
• Torre = 5 pontos
• Dama = 9 pontos
• Rei = valor absoluto
Porém o valor das peças pode variar de acordo com a posição e funcionalidade.
A seguir veremos como o bispo pode assumir valor relativo em diferentes posições.


O Bispo Bom

Considera-se um bispo “bom” quando os peões de seu bando estão ocupando casas de cor oposta a sua. Isto se aplica quando a cadeia de peões não pode ser modificada com facilidade.
Neste caso o bispo não tem seu raio de ação e sua mobilidade atrapalhada por seus próprios peões.


O Bispo Mau

Considera-se um Bispo “mau” quando os peões de seu bando estão ocupando casas de mesma cor que a sua (quando a cadeia de peões não pode ser modificada com facilidade).
Neste caso os próprios peões restringem a atuação do bispo.

Diagrama 1


No diagrama 1 apresenta-se uma posição onde o material está exatamente igual, porém as brancas estão em vantagem devido a diferença entre os bispos.
O bispo branco de d3 pode atacar ao mesmo tempo a ala da dama e a ala do rei e seus peões não atrapalham seu raio de ação. Já o bispo negro em c6 tem sua mobilidade reduzida por sua própria cadeia de peões.


Diagrama 2


No diagrama 2 as brancas tem três peões em casa da mesma cor de seu bispo e apenas dois em casa diferente da cor de seu bispo. Porém os três peões do flanco da dama podem facilmente mudar sua posição.
Neste caso o que determina se o bispo é mau ou bom é a posição dos peões da ala do rei que estão bloqueados. Assim o bispo das brancas é bom e o bispo das negras é mau.


Diagrama 3
Najdorf X Bronstein

O valor dos bispos é um fator estratégico importante. Considerando-se este fator posicional, cada jogador buscará posicionar seus peões em casa de cor oposta a de seu próprio bispo, o que facilitará bloquear os peões adversários em casas acessíveis ao seu bispo. Além disso, estes conceitos devem ser considerados ao efetuar trocas de peças.
Na posição do diagrama 3, Bronstein usou esta idéia contra Najdorf jogando: 1... Bc3; 2.Dc3, De5; 3. De5, de5. e a vantagem que obteve com o bispo bom foi suficiente para ganhar a partida.


Utilizando o conceito de bispo bom na prática

Partida 1: Sakellaropolos x Boleslavsky (Helsinki, 1952)

1. d4, Cf6;
2. c4, g6;
3. Cc3, Bg7;
4. e4, 0-0;
5. Cf3, d6;
6. Be2, e5;
7. d5, Cbd7;
8. 0-0, Cc5;
9. Cd2, a5;
10. Dc2, Bh6!; (jogado pela 1ª vez por Petrosian, 1950/URSS Ch.)
11. Cb3, Bc1;
12. Tac1, Cfd7;
13. Cc5, Cc5;
14. f4?, ...;(criando debilidade em e4,melhor seria Dd2)
... ef4;
15. Tf4, Dg5;
16. Tff1, Bd7;
17. Tce1, Tae8;
18. Bd3, f5;
19. Db1?, ...;(se 19.ef5, Te3!; melhor seria 19. Rh1)
..., fe4;
20. Ce4, Ce4;
21. Be4, Tf1+;
22. Rf1, Df4+;
23. Rg1, De5;
24. Rf1, ... (forçado para evitar 24...Bf5)
... Dh2,
25. Bf3, Dh1+;
26. Rf2, Dh4+
27. Abandonam


Partida 2: Agora uma partida minha, que venci é claro!
OBS: A anotação está em Inglês


O Bispo Feio

Os conceitos de bispo bom e bispo mau já são bastante conhecidos e tratados em diversos manuais de xadrez. Decidi incluir neste estudo o conceito de bispo feio como uma brincadeira. Neste caso o bispo é aparentemente mau, porém rapidamente se transforma em um bispo bom, então neste caso considerei que na verdade o bispo era apenas feio.

Diagrama 4 Alekhine-Johner

Para exercer sua força o bispo necessita de diagonais abertas. Este exemplo mostra como a abertura de diagonais pode melhorar a efetividade de um bispo, transformando um bispo feio em “herói”. Isso só foi possível devido à mobilidade dos peões.

A partir do diagrama 4 seguiu:
44. e5, de5; (Se 44..,e5; 45.f6!, Df6; 46.Dg4+ seguido de 47. Be4+-)
45. d6!, c5 ; (Se 45..,cd6;46. c5! E 47. Bb3+
46. Be4, Dd7;
47. Dh6! Abd (não há defesa, depois de 47.... Rf7; 48.Bd5+)

Conhecer os conceitos estratégicos auxilia na compreensão do jogo e é muito importante para uma boa condução da partida.

É essa cultura estratégica que diferencia um Grande Mestre de um jogador médio. E graças a estes conhecimentos ainda é possível enfrentar computadores que calculam milhares de lances. Mas não basta apenas seguir as cartilhas estratégicas, pois o Xadrez é complexo e às vezes golpes táticos desmoronam posições estrategicamente construídas como no exemplo do bispo feio.

Por: Anderson Tatsch Dias - Baseado no Livro Estratégia Moderna em Ajedrez de Ludek Pachman - Ciclo de palestras do Clube de Xadrez de Curitiba http://www.cxc.org.br/ realizada em 18/02/2009).

1 comments:

Unknown disse...

A notação desta última parte está equivocada.
Acho que mistura espanhol com português, além disso o comentário do lance 44 ... e5 é impossível, creio que seja fxe5

Fora isso tá muito bom o artigo

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