quinta-feira, 9 de abril de 2009

Boletim Informativo CXC - Março 2009


Entrevista: Dr. Mauro de Athayde (parte 2)



O Dr. Mauro de Athayde, 77 anos, é uma das figuras mais queridas e ilustres do Clube de Xadrez de Curitiba. Em janeiro, ele nos deu seu depoimento na Sala Otto Mak do CXC:


LS: O CXC era, então, o grande local do xadrez...
MA: Era o único! Depois teve o Clube Juvevê, e um pouco lá na rodoferroviária.

Por isso nós lutamos para não deixar isso aqui morrer, porque aqui é a célula primeira, a origem de tudo, todos passaram por aqui. O Sunye passou por aqui uma época, depois o Disconzi... eles tiveram seu aprendizado aqui nesse Clube.


LS: Nas décadas de 60 e 70, quais foram seus principais resultados?
MA: Eu fui evoluindo, em 1962, 63, 64, joguei os Paranaenses. Depois, em 1964, fiz minha
residência no Rio de Janeiro, em pediatria na Universidade Católica do Rio. Nessa época parei um pouco de jogar torneios. Outro que joguei foi o Paranaense de 1969, quando já jogavam Justo, Vitório [os irmãos Chemin], Ernesto [de Assis Pereira]. Em 1977 teve um Brasileiro aqui em Curitiba, me classifiquei para jogar, depois na final não lembro como fiquei. Ganhei dos dois irmãos, Dirk Dagobert e Herman. O Sunye ganhou aquele torneio. Mas tem uma época em que a gente precisa parar, como tudo, pelo menos competitivamente. Eu ainda acompanho, tenho uns amigos que fiz que frequentam o clube.



LS: O senhor ainda joga?
MA: Jogo relâmpago. O xadrez é uma coisa importante na vida da gente, é uma espécie de
passatempo lúdico, onde a gente faz muitas amizades, essa é a maior virtude. Um enxadrista no mundo é um amigo. O xadrez é uma linguagem universal, é uma língua como o esperanto. Uma vez fui na Bahia, em 1963. Cheguei lá, e acabei ficando meio sem dinheiro. Falei com o Presidente do Clube de Xadrez baiano, que nunca tinha me visto na vida... Ele me ajudou, depois eu reembolsei. Aí você vê a parte da amizade do xadrez, universal.


Naquela época de Guerra Fria, entre Rússia e Estados Unidos, os enxadristas desses países não estavam nem aí para essas coisas. No torneio de Petrópolis, Bronstein, Reshevsky, não estavam nem aí para a política. Jogavam, analisavam. Essa é uma virtude do xadrez. Essa juventude não pode ir para males mais perigosos. Xadrez é uma droga boa, você tem que dosar.

LS: Um dos seus grandes resultados foi no Sul-americano...
MA: Em 1963 eu joguei o Brasileiro, tava em residência mas fui jogar. Joguei muito bem. No
Brasileiro não perdi nenhuma partida, ganhou o Antonio Rocha e eu fiquei em segundo com o Helder Câmara empatado nos pontos. Depois, em Fortaleza, fui jogar o Sul-americano. Jogou toda a turma argentina, o Rosseto, os uruguaios, e do Brasil jogou Helder Câmara, Antonio Rocha. Lá perdi só uma partida, para o Rosseto, que ganhou o torneio. Em segundo ficou outro argentino, o Foguelman. Em terceiro fiquei empatado com outro argentino e um peruano.

Então, quando fui jogar o match de desempate, não é para me justificar que eu não me classifiquei, mas eu ficava na residência no hospital de dia e de noite ia jogar o match. Ganhou o peruano Quiñones, e foi para o Interzonal.

Porém, felizmente, para mim, há males que vem para bem. Se eu houvesse ganhou esse
desempate, não sei o que aconteceria, jogaria na Europa o Interzonal, talvez prejudicaria meu curso. teria que interromper ou não a residência. Claro que senti perder, mas por outro lado não.


LS: O sr. nunca tentou seguir uma carreira profissional?
MA: Na época era muito mais difícil. Hoje ainda dá, tem mais visibilidade. mas antes, só os grandes campeões conseguiam, só os russos sobreviviam. Não sei até hoje se iria para a Europa jogar o Interzonal.


Joguei fundamentalmente os torneios do Clube, era difícil conciliar, dosar as coisas. Tem um pessoal brasileiro agora, o Fier tá bem. O Sunye foi profissional por muitos anos, mas ele tem outra atividade, é empresário. Mas, nessa época de 60 e poucos, pelo rating eu seria MI. Peguei o título de Mestre Nacional, que hoje não vale nada. Mas se pegasse os resultados da época, eu seria o que se diz hoje de MI.

Texto do Boletim informativo do Clube de Xadrez de Curitiba do mes de Março de 2009 - Entrevista de Leandro Salles. www.cxc.org.br

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