terça-feira, 12 de maio de 2009

Boletim Informativo CXC - Abril 2009


Entrevista: Dr. Mauro de Athayde (parte 3)


LS: Como era o estudo do xadrez na sua época?
MA: Hoje isso é algo que está muito facilitado. Se você, por exemplo, quer jogar uma variante X da Índia do Rei ou Siciliana, você puxa ali N partidas, milhares de partidas, então ficou muito facilitado. Você quer uma variante, você pega direto pela variante. Naquela época não tinha muitos recursos, era mais baseado nos livros, a maioria importados, que os argentinos compravam. Tinha uma revista chamada Ajedrez e outra inglesa que se chamava Chess.

Então o estudo era muito diferente e muito difícil, você tinha que sentar, analisar tudo por conta.
Antes, quando eu queria jogar uma variante, eu pegava as revistas, selecionava as partidas que continham aquelas linhas de jogo, às vezes transcrevia para outro lugar, para começar a ter uma base. Mas ali cada um ia por conta, era mais na base da imaginação. Alguns jogadores chegaram a fazer uma teoria, Steinitz, Lasker. Hoje o progresso tecnológico é determinante. Antes o xadrez era mais veterano também, o Souza Mendes, por exemplo, foi campeão [brasileiro] com 68 anos. Hoje o xadrez é mais um jogo de jovens, eles têm uma memória boa. Hoje garotos com 14, 15 anos já são Grandes Mestres. Além da informação tem que ter o talento individual.


LS: O senhor mantém uma pasta com as suas partidas?
MA: Eu sou meio relaxado, eu tenho algumas. Tem gente que pergunta: “Cadê as partidas, cadê
suas partidas?”. Eu tenho algumas, mas a gente perde. Saíram algumas na internet. Eu estou para fazer uma coletânea, o [Henrique] Marinho que me incentiva a fazer uma coletânea com as melhores partidas.


LS: Por que você acha que há poucas mulheres que jogam xadrez? Antes também era assim?
MA: É, o Brasil até teve algumas. Em um Brasileiro que eu joguei, teve um Feminino paralelo, teve umas argentinas que jogaram com as brasileiras. Naquela época tinha a Ruth Cardoso, e outras que agora não lembro, a Dora Monteiro. Já havia naquele tempo. Agora, hoje já tem mais, depois que as Polgar surgiram. Tem as chinesinhas que jogam.
Não sei se é uma diferença de sexo ou cultural. Hoje tem as russas e o nível está ficando altíssimo.
No passado teve a Vera Menchik, que foi bem famosa.


LS: Como o Sr. enxerga o surgimento de outros países no cenário mundial do xadrez?
MA: O esporte está mudando. Países que, pessoalmente, eu achava que não tinham xadrez, hoje
tem. A China surgiu de repente. Um país do qual eu nunca tinha ouvido falar de xadrez, o Vietnã, ficou em quinto lugar na Olimpíada, e eu nunca tinha ouvido falar em vietnamita jogando xadrez [risos]. Já o Japão, por exemplo, o jogo deles é outro. O jogo lá é o tal de Go, é complicado, joga com as peças para disputar territórios, é o jogo oficial lá. O Marinho joga o Go, até um dia ele quis me ensinar, mas eu não consegui aprender o espírito da coisa, que é ocupar espaços, com as peças todas iguais.
Texto do Boletim informativo do Clube de Xadrez de Curitiba do mes de Abril de 2009 - Entrevista de Leandro Salles. www.cxc.org.br

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