sexta-feira, 22 de maio de 2009

Regras de Steinitz

REGRAS DE STEINITZ



As chamadas regras de Steinitz são um conjunto de preceitos que marcaram uma grande evolução no jogo. Foram inicialmente desenvolvidas pelo primeiro campeão mundial e formuladas e difundidas mais tarde principalmente por Emanuel Lasker. O xadrez se transformou totalmente com a aplicação destas regras, que transcendem ao jogo e são aplicáveis a todo tipo de luta. A lógica que as movimenta não conhece fronteira de tempo ou escola. A evolução posterior do jogo representa um refinamento deste primeiro pensamento científico. Estas idéias básicas explicam os diversos cenários da luta enxadristica e responde a perguntas básicas e fundamentais do porque se ganha, porque se perde, porque se ataca, quando se ataca, porque se defender, como atacar, como defender, o que é equilíbrio, que fazer em uma situação de equilíbrio ou definitiva, celebra um momento aonde o pensamento e a criatividade de cada jogador pode desenvolver-se e manifestar-se com êxito.
Segue uma síntese do fundamento principal das mesmas.

1. O bando dominante pode atacar, e deve faze-lo, do contrário, correrá o risco de perder a vantagem. Deverá atacar o ponto mais débil da posição do adversário. (K)

2. O efeito dos pontos débeis e fortes é decisivo, todo o resto é de uma importância secundária. (L)

3. Principio da proporção. O tipo de lance que é necessário está determinado pelas exigências da posição. Se você tem uma grande superioridade de forças em um setor aonde o inimigo tem importantes debilidades, tais como o Rei ou a Dama em má posição, etc., deve atacar este setor o mais rápido possível. Cada uma de suas jogadas terá a idéia de conseguir o melhor resultado. Suas forças de reserva devem estar prontas para o ataque com tanto ganho de tempo quanto seja possível – atacando, por exemplo, algumas debilidades pelo caminho – e as forças de reserva do oponente devem ser mantidas no limite, se possível, mediantes obstruções que poremos no caminho. Os meios são diversos, mas as variantes em razão das muitas jogadas forçadas por parte da defesa, são normalmente poucas, e em conseqüência sujeitas à analise direta. De tais ataques falamos que o “ritmo” (andar, correr) é rápido. (L) Quando sua superioridade não está claramente definida, deve ficar satisfeito com atacar de maneira mais tranqüila, melhorando seus pontos fortes, e metodicamente criando outros novos pontos nas linhas de defesa de seu oponente. Em tais casos o plano é tudo, o tempo, questão de importância secundária. Em geral o “ritmo” do ataque deve ser mais reduzido quanto menor for a sua vantagem. (L)

4. O que está na defensiva deve querer defender-se e fazer temporariamente concessões. (K) A menor quantidade possível, respeitando o principio da economia (L)

5. Em toda posição equilibrada, os dois lados manobram procurando pender o equilíbrio a seu favor. Mas uma posição equilibrada gera outras também equilibradas, em caso que os oponentes joguem com precisão. (K) Devem jogar para manter a cooperação entre as suas peças. (L)
Em uma posição em que tenho vantagem, eu ataco com força, meu oponente deve ter paciência e ser submisso, e pode que, não obstante, tenha de render-se. Sou o martelo, ele, o junco, e o público aplaude. Mas em outras posições equilibradas, eu sou o martelo em uma parte do tabuleiro e junco em outra, e isto pode ser que a platéia não entenda, mas é uma prova mais difícil. Por cada movimento em que obtenho vantagem, eu pago com uma desvantagem. (L) “To get squares, you gotta give squares.” Para obter casas devo ceder casas. (F)

6. A vantagem pode consistir em uma grande e indivisível ou em um conjunto de pequenas. O bando predominante deve acumular pequenas vantagens e transformar as vantagens transitórias em permanentes. (K)
(K): Kotov; (L): Lasker; (F): Fischer)


EXEMPLOS ILUSTRATIVOS


Blackburne,J - Pitschel,K
Paris, 1878



Análise da posição. As brancas possuem um peão a mais, isto por si mesmo não define a partida, é necessário progredir metodicamente incrementando as outras vantagens da posição e logo poderemos fazer valer o material. Para isto Blackburne confia na torre ativa em e5 que sonha entrar na sexta, sétima ou oitava fileira, propicia a abertura da coluna h para dar jogo à outra torre, organiza um ataque contra o peão débil de g5 e trabalha tendo em vista a liberação dos poderes do bispo de e3, momentaneamente limitado pelo peão de d4.

Pode ser útil aproximar em este momento uma, de entre tantas possíveis, definição de ataque: atacar é remover obstáculos. O ataque branco vai no compasso da natureza da vantagem em que se baseia. As jogadas da partida se compreendem facilmente.
37.hxg5 hxg5 38.Th2 Rf8
Se 38...Tg7 39.Th8 Tg8 40.Th7+ Tg7 41.Te7+ Rxe7 42.Txg7+
39.Th7 Bf7
Em 39...Bd5 segue 40.Tb7 Th6 41.Tb8+ Rg7 42.Txg8+ Bxg8 43.Bxg5 Th1 44.Bf4.
Ou: 39...Tg7 40.Te8+ Rxe8 41.Txg7 Td7 42.Txg5 Te7 43.Rf4 Bd5 44.Th5.
40.d5 Txd5 41.Bc5+ Txc5 42.Txc5 Bd5 43.Rf2 Tg7 44.Txg7 Rxg7 45.Txd5 cxd5 46.Re3 1–0





Nimzowitsch,A - Gunsberg,I
St.Petersburg prel St.Petersburg, 1914




As brancas possuem vantagem e devem, portanto, atacar.

Análise da posição:
O bispo preto não pode respirar com tantos peões que compartem no tabuleiro as casas brancas. É o clássico bispo mau dos finais.
Por outro lado, o cavalo branco não tem estes problemas e olha adiante com otimismo e sem travas (peça menor superior).

Os peões de g6 e b7 são debilidades que devem ser atacadas.
O Rei branco ocupa uma excelente posição.
A torre branca por sua parte aponta a b7, mas é um ataque inócuo porque o bispo o defende no momento, sem problemas. Então a torre deve buscar sua melhor posição: a entrada pela sétima e oitava fileira, mesmo que pagando o preço de entregar um peão.
As brancas possuem uma pequena vantagem e a incrementam com a mínima troca de material.
41.Th2 Txg5 42.Th7+ Agora o rei, com pouca mobilidade é objeto de ataque.
42...Rf6 porque retroceder permitiria a fatal entrada do rei branco por d6.
43.f4 Com isto se fixa o peão de f5 que tanto limita o bispo.
43...Th5 44.Tc7 O bispo preto não é só mau por ser pouco ativo senão que, igual ao rei preto é objeto de ataque. Temos de atacar aquilo que é fraco. O estático e suscetível de ser atacado. Estas idéias se expressam em todas as áreas, por exemplo: é inútil para um leão perseguir um animal são e veloz, ele se concentra nas presas em potencial que não podem escapar facilmente, porque são muito jovens, ou muito lentas, estão doentes, ou tem pouco espaço para fugir.

Em todo caso para obter êxito se ataca aquilo que não se movimenta.
44...Th8 A torpeza do bispo compromete a torre, assim uma debilidade vai gerando outra. A posição vai se deteriorando e é envolvida progressivamente por uma paralisia generalizada.
45.c6 liquida o peão b7 para poder chegar ao de a6
45... bxc6+ 46.Txc6+ Rg7 47.Tc7+ Rf6 48.Rc5 Td8 49.Tc6+ a posição ideal da torre
49...Rg7 50.Cf3 O ágil cavalo busca situar-se para atacar g6
50...Rh6 51.Ce5 Tg8 Paralisia total
52.Rb6 Rh5 53.Rc7 Rh6 54.Cxg6 Não se pode servir a dois senhores. 1–0


Por Marcos De Anna, Clarín 7-4-08 – Publicado em 05/07/2008 - Ano 7 Nº 309 - Semanário de Ajedrez - NUESTRO CÍRCULO - Director: Arqto. Roberto Pagura - - (54 -11) 4958-5808 Yatay 120 8º D 1184. Buenos Aires – Argentina. ropagura@ciudad.com.ar

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